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domingo, 31 de janeiro de 2010

"Blackout"

Falo sem assunto...
apenas porque acho que esse espaço vazio
entre o meu silêncio e
o dos outros havia de ser calado,
tenho pouco a acrescentar ao
que já está acrescido
mas procuro acertar
no que expulso da minha boca
cheia de vazio
para trazer não mais do mesmo
mas Mais de facto!...

Crio um pacto neste estranho diálogo
e concordo em concordar mais
do que discordo
com esta coisa do silêncio,
acho assim a forma ideal
de não meter palavras na boca
dos outros nem na minha,
evitam-se equìvocos
contornam-se tabús
e ficamos nús frente a frente
podendo dizer seja o que for

Digo tudo como os malucos
numa conversa que tem de facto
o seu quê de louca
e enquanto fecho a boca
digo-te bastante mais
do que nas vezes em que me permiti
falar demasiado

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"Parte Incerta"

"Porque existe aquele lugar cá dentro onde tudo se passa como se existisse um Mundo dentro de outro..."

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Depois daquela rua
existe uma outra rua,
que não é a minha
nem tão pouco a tua
mas que é nossa...

Após aquele sítio
existe um lugar
que nos pertence
sem que dele façamos parte,
mas que é parte daquilo
que é tudo o que somos hoje

Algures naquele planeta,
existem coisas que são
de outro mundo
que não o nosso,
mas que é o mundo de
que fazemos parte

As antíteses aproximam-se
e mutam-se
para mudar com elas
as noções e visões,
assim não sei se olhamos
o que é ou o que já foi

Mas tenho a certeza que é depois daquela rua...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Lado B"

Soundtrack:  "Invocation of  Naamah" - Therion


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Subtilmente estilhaça-se
a calma com um grito audível
nas tensões crescentes
em chamas de raiva,
explodem sentimentos
que transbordam de lamentos
nestes e noutros momentos
mais ou menos dignos
de serem tidos em conta

A gravidade das consequências
explica a importância das causas
e nas pausas
desmontam.se cenários que
cobriam o que havia
para mostrar

Condensam-se as febres
e estipula-se a disputa
por uma vitória que será
sempre a derrota de todos,
não há como vencer
as causas perdidas,
não há como cuidar
das coisas antigas,
não há como lembrar das coisas esquecidas,
resta que a sobra
seja suficiente para
oferecer sonhos a um pesadelo

Em tréguas afoga-se o grito
mantendo a tensão em alerta,
aquilo que desperta também adormece
e arrefece...
baixam os níveis
e já menos audíveis
escutam-se vozes sábias
conscientes de tudo,
transparentes dos nadas
que compõem tudo
o lado B da vida
devolve o grito de volta...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Minutos Contados"

O tempo é a única coisa
que não muda com o tempo...

Tudo o resto finda
ou cessa num maior
ou menor espaço temporal,
A morte
A velhice e
até mesmo a criancice,
atingem-nos e passam por nós
usando-nos,
sugando-nos o tempo
roubando-nos por um tempo,
largando-nos sem altura certa

O tempo dura o mesmo
e altera as coisas
mas nada lhe dá a provar
um pouco desse mesmo veneno,
o tempo é sereno
e não tem horas
para si mesmo
mas sim para os outros

Já não vou a tempo
mas ainda assim
procuro a forma de mudar
o pouco tempo que ainda tenho

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Amor e Ódio"

Mato-me!...

Assim que mordi as palavras doces
que tinha na boca e
as cuspi fora sem sequer
chegar a guardar o sabor,
assim que rasguei o beijo que
tinhas para me dar
com o corte de um olhar cinzento
e por isso lamento...

Foi  de ti que parti
em busca de em ti me perder
mendigo das tuas esmolas
sem abrigo do teu tecto,
incorrecto...
livre de ser preso
ao emaranhado dos teus cabelos

Mutilo-me!...
Em golpes fundos de
dor latejante,
na fúria gritante dos actos maldosos
dos meus pensamentos
que já foram sangrentos para contigo,
adversário amigo
brinco contigo ansioso por te ver perder
e reconhecer-me,
Gloreia-me e venera
para que te pise!...
e me arrependa logo em seguida...
para que te veja ferida
e me sinta bem por só eu te poder tratar

Mato-me mesmo!...
Mato-me furioso
por ter gozo em tudo em
tudo o que te tira Tudo,
fora eu mudo que falaria destas coisas
de outras maneiras
só mesmo para poder falar delas,
Mato-me porque te atormento
e por isso lamento...
sou um inconsciente com
consciência pesada,
Mato-me antes que te deixe
reduzida a Nada...

domingo, 17 de janeiro de 2010

"Cogitação"

Soundtrack: "In Motion I/ In Motion II" - The Gathering


Dias em que o remorso, pena e lamento superam as noções do que se julgava correcto da nossa parte, a  atitude correcta que julgámos tomar ou qualquer coisa que já tivéssemos dado como certa e encerrada demovem-nos e alteram o estado de espírito sem pedir e sem aviso...

... A essas mesmas coisas o meu tímido apontamento de hoje...





Sentei-me à mesa do café comigo
para tirar partido dos cheiros
toques e sons
que me despertassem e me mostrassem
quão vivo posso estar
e quão disponível a minha sensibilidade
se possa mostrar para partilhar
dos meus motivos
e esbanjar nas palavras escritas
muitas mais do que nas ditas

Gladiei-me de razões
e travei-me de opiniões
muitas vezes...
mais do que as necessárias...
e hoje depreendo que me poderia
sentar com muitos outros para
partilhar este café que me sabe
como se fosse o último
(sendo que o pode até ser...)
Assim não me conforto
e estar vivo é uma descoberta própria
que faço e desfaço
com experiências aleatórias,
compassadas em memórias
tidas e prometidas

Há quem puxe por um cigarro
na mesa ao lado e
eu invejo-lhe o vício,
desconforto-me por não ter olhos postos
na chávena do meu café
que vai a meio
assim como eu,
meio cheio
meio vazio
procuro outro ponto de onde
descortinar razões para os meu motivos
motivos para as razões que apresentei
ao longo do tempo
para ao longo do tempo me apresentar
sombrio e húmido

Levanto-me e pago a conta
assim como se ficasse a dever...

Na rua procuro de novo
o toque
o cheiro e
o som...
qualquer coisa que me dê o tom
da próxima nota a tocar,
quero das coisas que elas
me queiram
e das coisas que se entranham
que em mim se instalem
e me acrescentem

Já não nego as saudades
nem desminto as verdades
é mais que certo que cometi os erros
de outros e tive
originais meus...
Comungo de crenças e
demarco-me de associativismos
rendido,
poupo os demais
e penitencio-me

Regresso a casa
embriagado do que ouvi
extasiado com tudo o que senti
alucinado pelas coisas que vi
e sento-me comigo a mesa
com a certeza de que
a companhia não é a mesma
que saiu comigo à rua

sábado, 16 de janeiro de 2010

"Alma Gémea"

Falamos sozinhos em voz alta e podemos aparentar ter um parafuso a menos mas quando falamos para nós mesmos de outras formas mais subtis mostramos inteligência, seja como for, seremos sempre a melhor escolha para a partilha das coisas que guardamos cá dentro...




Conversa com a Alma e
diz-lhe as coisas que afogas
num soluço de choro,
nem que sussurres...
Conta-lhe!...
explica-lhe que terias dito
bem mais cedo
(assim tivesses a coragem...)
Sê assertivo
e assim não deixes pela meia medida
aquilo que deves de uma só
vez deitar cá para fora

Dispara e
abre o peito às balas caso elas
procurem o caminho de volta,
corre o risco mas não o pises
e nessa tarefa explica-lhe
que as coisas que fazes
são porque te parecem pistas
de melhores caminhos a seguir

Diz-lhe que vives
no intervalo de cada batida
de coração,
mas mostra-lhe que a vida
estará perdida se estiver na mão
de qualquer outra pessoa que
não um de vós